S. João XXIII, "Papa da docilidade ao Espírito" e S. João Paulo II, "Papa da família"
- Papa Francisco, na homilia
Uma incontável
multidão participa, na Praça de São Pedro e imediações, assim como nos variados locais
de Roma através de ecrans gigante, na Missa de canonização de João XXIII e de João
Paulo II. Sobressaem os polacos e, entre os italianos, especialmente os fiéis da diocese
de Bérgamo, terra natal do Papa Roncalli. Presente, concelebrando a Missa, o papa
emérito, Bento
Como prevê o ritual, a celebração começou com o pedido, apresentado
pelo cardeal Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. No momento da proclamação
solene, intensos os aplausos da imensa assembleia.
Na homilia, Papa Francisco
começou por comentar o Evangelho do dia, em que – observou – “encontramos as chagas
gloriosas de Jesus ressuscitado”. Tomé, que não se encontrava presente na primeira
manifestação do Senhor, disse que “se não visse e tocasse aquelas feridas, não acreditaria”.
Oito dias depois, Jesus apareceu de novo no Cenáculo e, dirigindo-Se a ele, convidou-o
a tocar as suas chagas. E então aquele homem sincero, habituado a verificar tudo pessoalmente,
ajoelhou-se diante de Jesus e disse: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28).
Se
as chagas de Jesus podem ser de escândalo para a fé (fez notar o Papa Francisco),
são também a verificação da fé.
“É por isso que no corpo de Cristo ressuscitado
as chagas não desaparecem, continuam, porque aquelas chagas são o sinal permanente
do amor de Deus por nós, sendo indispensáveis para crer em Deus: não para crer que
Deus existe, mas sim que Deus é amor, misericórdia, fidelidade.”
Citando Isaías,
São Pedro escreve aos cristãos: «pelas suas chagas, fostes curados».
“S. João
XXIII e S. João Paulo II tiveram a coragem de contemplar as feridas de Jesus, tocar
as suas mãos chagadas e o seu lado trespassado. Não tiveram vergonha da carne de Cristo,
não se escandalizaram d’Ele, da sua cruz; não tiveram vergonha da carne do irmão (cf.
Is 58, 7), porque em cada pessoa atribulada viam Jesus. Foram dois homens corajosos,
cheios da parresia do Espírito Santo, e deram testemunho da bondade de Deus, da sua
misericórdia, à Igreja e ao mundo.”
Por outro lado - prosseguiu Papa Francisco
– ambos eles foram sacerdotes, bispos e papas do século XX.
“Conheceram as
suas tragédias, mas não foram vencidos por elas. Mais forte, neles, era Deus; mais
forte era a fé em Jesus Cristo, Redentor do homem e Senhor da história; mais forte,
neles, era a misericórdia de Deus que se manifesta nestas cinco chagas; mais forte
era a proximidade materna de Maria.”
Nestes dois homens contemplativos das
chagas de Cristo e testemunhas da sua misericórdia, habitava «uma esperança viva»,
juntamente com «uma alegria indescritível e irradiante» (1 Ped 1, 3.8).
“A
esperança e a alegria que Cristo ressuscitado dá aos seus discípulos, e de que nada
e ninguém os pode privar. A esperança e a alegria pascais, passadas pelo crisol do
despojamento, do aniquilamento, da proximidade aos pecadores levada até ao extremo,
até à náusea pela amargura daquele cálice. Estas são a esperança e a alegria que os
dois santos Papas receberam como dom do Senhor ressuscitado, tendo-as, por sua vez,
doado em abundância ao Povo de Deus, recebendo sua eterna gratidão.”
“Esta
esperança e esta alegria respiravam-se na primeira comunidade dos crentes, em Jerusalém,
de que nos falam os Actos dos Apóstolos na primeira leitura. É uma comunidade onde
se vive o essencial do Evangelho, isto é, o amor, a misericórdia, com simplicidade
e fraternidade. E esta é a imagem de Igreja que o Concílio Vaticano II teve diante
de si.”
“João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para
restabelecer e actualizar a Igreja segundo a sua fisionomia originária, a fisionomia
que lhe deram os santos ao longo dos séculos” – prosseguiu Papa Francisco, sublinhando
que “são precisamente os santos que levam avante e fazem crescer a Igreja.” A docilidade
ao Espírito foi “o grande serviço” do Papa João XXIII à Igreja
“Na convocação
do Concílio, João XXIII demonstrou uma delicada docilidade ao Espírito Santo, deixou-se
conduzir e foi para a Igreja um pastor, um guia-guiado, guiado pelo Espírito. Este
foi o seu grande serviço à Igreja; foi o Papa da docilidade ao Espírito Santo.”
Por
sua vez, neste serviço ao Povo de Deus, João Paulo II foi o Papa da família.
“João
Paulo II foi o Papa da família. Ele mesmo disse uma vez que assim gostaria de ser
lembrado: como o Papa da família. Apraz-me sublinhá-lo no momento em que estamos a
viver um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um caminho que ele seguramente
acompanha e sustenta do Céu”
E o Papa Francisco concluiu a homilia fazendo
votos de “que estes dois novos santos Pastores do Povo de Deus intercedam pela Igreja
para que, durante estes dois anos de caminho sinodal, seja dócil ao Espírito Santo
no serviço pastoral à família. Que ambos nos ensinem a não nos escandalizarmos das
chagas de Cristo, a penetrarmos no mistério da misericórdia divina que sempre espera,
sempre perdoa, porque sempre ama.”
A concluir a celebração, “esta festa da
fé” (disse), antes da recitação da antífona mariana do Tempo Pascal, o Papa Francisco
saudou e agradeceu todos os “irmãos Cardeais e os numerosíssimos Bispos e padres de
todas as partes do mundo”. Um reconhecimento especial dedicou-o às Delegações oficiais
de tantos países, vindas a Roma “para prestar homenagem (afirmou o Papa) a dois Pontífices
que contribuíram de maneira indelével para a causa do desenvolvimento dos povos e
da paz”. Saudados também expressamente os peregrinos das dioceses de Bérgamo e
de Cracóvia, terras de origem dos dois novos santos. Agradecimentos foram expressos
às autoridades italianas e da cidade de Roma, pela “preciosa colaboração” prestada
à organização deste evento que terá trazido à Cidade Eterna umas 800 mil pessoas,
assim como a tantas organizações e associações que deram o próprio contributo e os
tantos voluntários.