Cidade do Vaticano (RV) – A íntegra da saudação que o Arcebispo de Aparecida
e Presidente da CNBB, Dom Raymundo Damasceno Assis fez ao Santo Padre na conclusão
da Santa Missa em ação de graça pela canonização de José de Anchieta, na tarde desta
quinta-feira na Igreja de Santo Inácio, em Roma:
Santidade,
A Igreja
no Brasil e o povo brasileiro agradecem a Deus por lhes permitir realizar um sonho
que durou mais de 400 anos: ver o Apóstolo do Brasil apresentado à Igreja Universal
como testemunha de Jesus Cristo.
Estou certo, Santo Padre, de trazer à sua
presença centenas de jesuítas que, ao longo de muitos anos, trabalharam para este
momento. Não só dou voz aos filhos de Santo Inácio, mas também a milhares de fiéis
leigos envolvidos pela santidade e carisma do Padre Anchieta. Eles deram o melhor
de si para que esta celebração acontecesse. Assim, em nome de todos eles, vivos ou
já na visão beatífica, quero, do fundo do coração, dizer-lhe: muito obrigado, Santidade!
José de Anchieta chegou jovem ao Brasil, com 19 anos de idade, pouco depois
de ter emitido os votos religiosos de pobreza, castidade e obediência. Com um coração
juvenil, amou, desde o primeiro contato, o povo brasileiro. A ele, dedicou sua grande
inteligência, cultura e erudição, a capacidade de amar e de sofrer por amor. A ele,
consagrou suas qualidades humanas, a capacidade de lutar, de ser aguerrido e a sua
espiritualidade.
Como um São Francisco do Novo Mundo, revelando notável capacidade
de observação da natureza, escreveu a chamada Carta de São Vicente. Nela, com grande
erudição, e de modo muito completo e preciso, fez a primeira descrição detalhada da
Mata Atlântica, importante bioma brasileiro.
Anchieta, também como o santo
de Assis, viveu a pobreza e a simplicidade. Em carta, descreveu como as vivia com
os indígenas, chegando ao ponto de relatar que, como toalha de mesa, usavam folha
de bananeira, para, em seguida, completar que dela não tinham necessidade, pois qual
a razão da toalha se lhes faltava a comida? Como o pobrezinho de Assis, no espírito
da perfeita alegria, asseverou que estavam tão felizes naquela situação – ele e os
demais jesuítas –, que, ao pensarem no tipo de vida levada nos colégios da Europa,
nenhum tipo de saudade lhes vinha ao coração.
Santo Padre, contemplando no
Padre Anchieta a simplicidade de vida, o serviço prestado aos marginalizados, o seu
modo de vida, encontramos o Senhor da Vida. Nosso Apóstolo se fez santo servindo aos
indígenas, aos negros e a todos os pequenos do Brasil. Queremos seguir seus passos.
Ele foi o nosso grande e incansável evangelizador. Seu exemplo motiva-nos a irmos
destemidamente ao encontro de Jesus Cristo e dos irmãos.
O Padre Anchieta
deixou-nos também o exemplo do grande amor que dedicava a Nossa Senhora, a quem sempre
pedia socorro. Ela foi sua força e apoio nos momentos cruciais de sua vida: no ambiente
conturbado de Coimbra, quando percebeu que sua vida cristã poderia arruinar-se, ou
na Aldeia de Iperoig, na costa brasileira, onde, sem nenhum apoio visível - a não
ser a oração -, por vários meses permaneceu refém dos índios tupinambá. Nesse trágico
momento, mais uma vez recorreu a Maria e, certo de sua ajuda, começou a escrever o
Poema da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, expressão de sua extraordinária
devoção e amor à Santíssima Virgem.
Santo Padre, muito obrigado por nos permitir
partilhar com os cristãos do mundo todo o belo testemunho que foi a vida de São José
de Anchieta, o Apóstolo do Brasil.
Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis Arcebispo
de Aparecida, SP Presidente da CNBB