Homilias da Casa Santa Marta são "o coração pulsante do Ministério de Francisco",
diz Pe. Spadaro
Cidade do Vaticano (RV) - O livro "A verdade é um encontro. Homilias da Santa
Marta" estará nas livrarias italianas a partir desta quinta-feira (24). A obra, publicada
pela Ed. Rizzoli e com prefácio assinado pelo Diretor Geral da Rádio Vaticano, Pe.
Federico Lombardi, é uma coletânea das sínteses realizadas pela Rádio Vaticano de
186 homilias do Papa Francisco. O volume inclui ainda, um ensaio do Diretor da ‘Civiltà
Cattolica’, Padre Antonio Spadaro, responsável pela obra. Nosso colega Alessandro
Gisotti pediu ao sacerdote jesuíta para contar como nasceu esta idéia:
Pe.
Spadaro: "O desejo de publicar um livro com as homilias do Papa Francisco na
Casa Santa Marta surgiu ao ouvir diariamente as matérias da Rádio Vaticano. Me dei
conta que a qualidade das reportagens era muito alta e que estas homilias tem um valor
ligado, obviamente, ao momento em que são pronunciadas diante de uma assembléia, a
pessoas que cotidianamente assistem à Missa; mas que podem ser ricas de meditações,
de pontos de reflexão para todos. Assim, a idéia veio justamente aos escutar, diariamente,
estas homilias".
RV: Se falou muito de que o áudio e os textos
destas homilias não eram apresentados de modo integral. O que se poderia dizer a respeito
disto?
Pe. Spadaro: "Estas homilias do Papa Francisco não se referem
a uma comunidade específica... não são discursos gerais que valem sempre e em toda
parte. Então, o Papa prefere que não sejam publicadas por inteiro, mas que exista
uma espécie de crônica delas, que venham por sua vez relatadas e seja possível inserir
alguns extratos, alguns trechos, de modo tal que seja preservada esta natureza espontanea,
se quisermos magmática, mesmo na linguagem, destas homilias. Assim, lendo o texto,
escutando estas homilias, nós somos capazes, por meio da narração, de reviver de maneira
nova e original esta experiência".
RV: É possível ver um desenho
na pluralidade dos temas abordados nas homilias da Santa Marta?
Pe. Spadaro:
"Na realidade, justamente o que me tocou é o fato que estas homilias respondem
a um pensamento espontâneo, não a uma teoria; assim, rejeitei de imediato uma impostação
temática destas homilias e decidi organizá-las exatamente assim como foram pronunciadas,
isto é, de maneira cronológica. Posso dizer que estas homilias da Santa Marta são
verdadeiramente o coração pulsante do Ministério do Papa Francisco. Os temas-chave,
as palavras-chave que depois se direcionam também a outros discursos mais oficiais,
de qualquer maneira, surgem de uma gestação, de uma relação efetiva com o Povo de
Deus, justamente nestas homilias".
RV: O que lhe toca da linguagem
das homilias feitas espontaneamente na Santa Marta, pelo Papa Francisco, que logo
surpreenderam pela sua expressividade? O que se poderia dizer do estilo Bergoglio?
Pe. Spadaro: "É um estilo muito atual, muito imediato, muito voltado
para as pessoas. Assim, sem dúvida alguma, existem conteúdos fortes, que porém são
mediados com uma grande atenção às pessoas que o Papa tem diante de si. Isto significa
que a linguagem é uma linguagem simples mas muito incisiva, rica de imagens, poética,
de qualquer maneira, isto é, capazes de serem espontaneas também na formação de imagens
que tocam as pessoas e tornam a Palavra de Deus viva. Portanto, eu diria, esta atualidade,
esta vivacidade que torna a palavra de Deus real, ativa naquele momento e para todos
aqueles que a escutam".
RV: "A homilia - escreve Francisco na Evangelii
Gaudium - é a medida para avaliar a capacidade de encontro de um pastor com o
seu povo". Assim, também disto se entende que a Missa com os fiéis é justamente uma
necessidade para o pastor Bergoglio?
Pe. Spadaro: "Absolutamente
sim: é uma necessidade. Eu penso que o Papa quis, desde o início, celebrar estas Missas
diante de uma porção do povo de Deus, justamente para estar em contato direto com
este povo. E isto nos faz entender que estas homilias não são discursos: uma coisa
é o discurso, que é mais geral, que é mais universal. A homilia, por outro lado, é
a atualização da Palavra de Deus em contato direto com a comunidade cristã que reza.
A preciosidade deste testemunho - porque isto o é - do Papa Francisco, consiste justamente
nesta relação direta com algumas pessoas que tem diante de si. Uma experiência única,
se quisermos, muito original, que caracteriza o Pontificado de Francisco”. (JE)