A santidade de João XXIII e João Paulo II pelas lentes de um fotógrafo
Cidade do Vaticano (RV) - Contar a santidade por meio de fotografias. Foi
o que pode fazer Arturo Mari, que por mais de 50 anos esteve a serviço dos Pontífices
como fotógrafo do L'Osservatore Romano. Muito ligado a João Paulo II, Arturo tem recordações
especiais também de João XXIII a quem pode acompanhar desde o início de seu pontificado.
A Rádio Vaticano entrevistou-o, por ocasião da canonização dos Papas Wojtyla e Roncalli
no dia 27 de abril.
R: "Para mim, é um acontecimento tão bonito,
que o Santo Padre João Paulo II e João XXIII estejam na glória dos altares ... sou
feliz e orgulhoso também, pelo privilégio de ter estado próximo a estes dois grandes
homens, por isto a felicidade é tamanha. Tive a sorte de viver ao lado de dois santos
vivos!".
RV: Quais são as suas recordações mais bonitas de João
XXIII?
R: "A sua simplicidade, o seu sorriso, o seu carinho quando
trabalhava....é necessário ter presente os tempos de então, com o protocolo daquela
época.... Com João XXIII as portas do Vaticano se abrem, a Igreja se abre, ele começa
a andar no meio das pessoas.... Tu trabalhas ao lado de um homem santo que de pouco
em pouco se vira, se lembra de ti e te pergunta: 'Como estás?'... esta é a satisfação
maior que eu tive".
RV: Você viveu ao lado de João Paulo II em cada
dia de seu pontificado. Existe um momento no qual começaste a pensar que não estavas
somente ao lado de um grande Papa, mas, de um grande santo?
R: "Eu
conheci Wojtyla no tempo do Concílio Ecumênico Vaticano II e alí saltava aos olhos
imediatamente aquele bispo fora de série. Apenas João Paulo II iniciou o seu pontificado,
me veio um sentimento que me fez acreditar na sua santidade, que posteriormente pude
tocar com as mãos. O seu programa previa a valorização de valores aos quais nunca
se teria pensado que poderiam ser aplicados. E se tornaram realidade! Existiram problemas
enormes, que se resolveram..... estes pequenos milagres! Milhares de pessoas que encontraram
a liberdade, a paz... Além de coisas especificamente pessoais, vistas na sua capela
e em outros lugares, onde para algumas pessoas disse: "Levanta-te e ande!", e, num
certo sentido, isto aconteceu...".
RV: Quando João Paulo II rezava,
todos, de perto ou de longe, tinham a impressão que o tempo parava...
R:
"Quando ele estava sozinho, em oração, assistir, vê-lo.... e eu, às vezes, escondido
- coisa que eu não deveria fazer, mas fiz -, por detrás do altar, via aquele vulto
que não era ele: aquele olhar, não era ele: era algo fora do normal! E depois, quando
iria encontrar os poderosos do mundo, ele se retirava em oração, joelhos por terra,
com a cabeça no genuflexório, e começava um diálogo com Nosso Senhor...".
RV:
Você também tinha um ponto privilegiado em olhar as pessoas que encontravam João Paulo
II. O que lhe tocava, talvez também olhando as fotografias, das expressões destas
pessoas?
R: "Era bonito, ver os seus olhos! Um dia o Santo Padre
me disse: 'Arturo, veja, quando tu tens um amigo, uma pessoa que amas, na qual tens
confiança, quando falas a ela, olhe-a sempre nos olhos. É a parte da pessoa que nunca
pode trair. Alí poderás ver a verdade!'. A assim era. E esta foi uma lição que aprendi
logo e também me ajudou tanto no trabalho, pois frequentemente com ele se conseguia
falar com os olhos, com o olhar. As pessoas que o encontraram sabiam quem estavam
olhando, especialmente os jovens: ver aqueles olhos luminosos, esperando uma palavra
dele, esperando alguma coisa, a felicidade de tocar uma pessoas que amavam...isto
era belíssimo!".
RV: Você tirou inúmeras fotografias de João Paulo
II. Qual delas que melhor representa a santidade de João Paulo II?
R:
"A fotografia que fiz na última Sexta-feira Santa, na capela do Santo Padre, quando
não pode participar da Via Sacra no Coliseu. Na 14ª Estação, o Santo Padre pediu a
cruz ao seu Secretário Stanislaw Dziwisz: não me surpreendeu, pois eu conhecia muito
bem aquele homem! Pega a cruz, a apóia na sua cabeça, beija o Cristo e a apóia no
seu coração. Para mim estes são 27 anos - uma vida - dedicada à Igreja, uma vida dedicada
ao mistério da Cruz. A esta Cruz ele, em cada momento, se apoiou para pedir ajuda;
com esta Cruz ele girou o mundo, buscando força nela, com aquele beijo com a fidelidade
a Deus, à Igreja, à sua missão. As unhas de seus dedos estavam vermelhas pela força
com que segurava aquela Cruz; e com aquelas mãos ele escreveu Encíclicas, abençoou
milhões de pessoas, fez carinho em crianças, doentes, enfermos, deu apoio a qualquer
um que pudesse ajudar... Quantas cartas escreveu, quantas coisas fez por nós, com
aquelas mãos!". (JE)