Petrópolis (RV) - Ecoa em minha memória o poema de Carlos Drummond de Andrade:
"No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma
pedra. No meio do caminho tinha uma pedra".
A aparente obviedade dos versos
do poeta pode ilustrar os sentimos confusos que, há dois mil anos, dilaceravam o coração
dos Discípulos de Jesus. Sim! Puseram uma pedra sobre a sepultura do Mestre, e tudo
estava acabado. Dentro, o silêncio de um corpo inerte; fora, a decepção dos que acreditaram
que Ele jamais morreria. Os maus venceram... e agora sobrara, tão somente, o luto
os justos!
Entretanto, a vitória dos maus dura pouco, porque a vitória do amor
não termina nunca. A história terrena de Deus não podia findar com o riso farfalhoso
da aliança diabólica selada entre Herodes, Pilatos, Judas e o Sinédrio. Se o mal aprisiona,
Deus liberta. Tudo o que não pôde ser, tudo o que ficou pelo meio, tudo o que foi
arruinado pelo desamor, encontrará no Ressuscitado a sua plena transformação. A vida
venceu a morte, expulsando para longe o desejo do poder como norma de vida, e a morte
como sentença para os desafetos. Ele deu o "direito de o ferirem" e nos concedeu o
"direito" de salvação. Nisso está todo o mistério do amor misericordioso de Deus para
conosco.
Assim, na Páscoa de Jesus o amor se revelou mais forte do que o mal
e a morte. Ele nos dá a conhecer em que mãos estamos, e para onde ela nos conduz.
Viver desta alegria não é perder a lucidez perante o drama do sofrimento, do desemprego,
da precariedade de vidas e das incertezas. O povo traz na pele sua paixão, sua dor,
sua morte. Porém, somente a certeza de que a Vida venceu - e vencerá - nos põe a caminho
para superar nossas mazelas estruturais.
A Páscoa é a ressurreição do Cristo
e, nela, a restauração de nossas almas. Este é o dia de renascer, começar tudo de
novo. De nos libertarmos do mal que corrompeu nossas almas e nos recobrirmos com o
véu da pureza que um dia tivemos. Hoje é dia de abandonarmos tudo o que é velho e
antigo e olharmos para a frente com coragem, dedicando-nos à vida como quem sorve
o sumo de um fruto saboroso, que somente Jesus pode nos fazer saborear.
Sim,
Jesus ressuscitou! E sua presença se torna ainda mais viva em nosso dia a dia, pois,
por causa desse Senhor, uma pedra de desesperança foi removida de nossas vidas. Por
isso nós cremos... por isso temos a certeza de que ressuscitaremos, pois Ele nos precedeu
no triunfo sobre a morte, fazendo com que a vida tomasse um rumo novo, baseado no
amor e na misericórdia de um Deus vivo, que nos dá participar da mesma vida que Ele
fez surgir e sobre a qual tem total poder.
Dom Gregório Paixão, OSB Bispo
da Diocese de Petrópolis (RJ)