Porto Alegre (RV) - A festa da Páscoa marca a história do Povo de Deus. Fala
de uma história de libertação e de vida: os escravos são libertos e os mortos são
resgatados!
Na noite da Páscoa a comunidade cristã se reúne ao redor do fogo
para cantar a vitória da vida sobre a morte, da libertação sobre a escravidão. Ao
redor do fogo a comunidade canta: “Eis a noite, em que tirastes do Egito os nossos
pais, os filhos de Israel, a quem fizestes transpor o Mar Vermelho a pé enxuto...
Eis a noite em que o Cristo, quebrando os vínculos da morte, sai vitorioso do sepulcro...
Noite em que o céu se une à terra, e o homem com Deus se encontra”.
O hino
descreve duas etapas importantes da história do Povo de Deus. A primeira diz respeito
à libertação do povo, sob a orientação de Moisés, das amarras do Egito; a segunda
celebra a vitória de Cristo das amarras de morte.
A vitória do Cristo sobre
a morte é narrada pelos quatro evangelistas. Expressa a realidade inusitada vivida
por aqueles homens e mulheres, discípulos da primeira hora. Trata-se de uma experiência
realizada pelos discípulos de Jesus, marcada por desconcertos, interrogações, saudade
e incertezas. Marcados pela dor da morte, eles choram a ‘separação’ do Mestre. Eles
não conseguem esquecer sua pessoa, sua pregação, seus feitos. Ao mesmo tempo, em diferentes
situações e movimentos, eles vão percebendo que algo novo está acontecendo, que a
presença do Senhor se faz sentir e ver de outro modo, que Ele está vivo. Ele continua
falando-lhes. Concedeu-lhes a possibilidade de vê-Lo e tocá-Lo. Ele caminha e faz
refeição com eles. Tudo isso diz de uma experiência totalmente nova, que ultrapassava
os horizontes habituais da experiência e, não obstante, para os discípulos era totalmente
nova e incontestável.
Já o fato inesperado da crucificação e morte fora difícil
de ser assimilado; fora necessário reler as Escrituras de modo novo. Agora também
o fato do reencontro com o Mestre precisa ser visto a partir de uma nova leitura da
Escritura. As poucas testemunhas escolhidas falam de um acontecimento tão distinto
e real, tão poderoso ao manifestar-se a elas que toda a dúvida se desvanecia. E elas,
com uma coragem absolutamente nova, não tem medo de se apresentar à sociedade e ao
mundo para proclamar: Cristo verdadeiramente ressuscitou!
Nós, os discípulos
de hoje, damos fé ao testemunho dos discípulos de ontem. Como eles, também nós, hoje,
somos convidados a, na comunidade e em comunidade, ler e re-ler as Escrituras. Assim,
recordando os feitos do Senhor, retornando sempre e de novo às Escrituras, celebrando
a Sagrada Liturgia, procurando fazer nossos os sentimentos Dele, pode ser que sejamos
também nós tocados pela graça do Encontro com o Ressuscitado e, assim, possamos ‘ver’
a união de céu e terra, o encontro do homem e Deus, pois a graça da Páscoa expulsa
o crime e lava as culpas, devolve a inocência aos pecadores, a alegria aos aflitos,
dissipa o ódio, prepara a concórdia, desarma os impérios.