Mensagem de Páscoa 2014 do Bispo de São Tomé e Príncipe
Vivemos num mundo “desanimado”, onde se perderam esperança e sonhos. Criámos um mundo
de necessidades, onde somos “obrigados” a ser felizes! Não ser feliz com aquilo que
o mundo nos dá é uma frustração. Para que isso não aconteça, apresentam-nos produtos
de todo o tipo: livros de auto-ajuda, receitas mágicas, psicólogos, curandeiros, astrólogos,
sacerdotes e sacerdotisas que anunciam todo o tipo de religiões de prosperidade e
felicidade garantida, carros e casas de sonho, marcas convidativas… e esquecemo-nos
de cultivar os nossos jardins de afectos, de relações amigas, de uma fé confiada e
solidária.
Estamos a celebrar a Páscoa. E quando falamos da Páscoa, recordamos
Jesus, um homem que viveu uma vida plenamente feliz, embora tenha morrido na cruz.
De
facto, a Páscoa fala-nos, em primeiro lugar, de cruz. Há sempre uma cruz erguida nas
paisagens pascais. Essa cruz fala-nos de amor; fala-nos do Filho de Deus amando-nos
até ao fim e que hoje continua na cruz, braços abertos, coração aberto, grito de perdão,
palavra de paz.
Páscoa fala-nos também de ressurreição. Nas paisagens da Páscoa,
para além da cruz, há um sepulcro vazio que nos fala de vida. “Ele não está aqui,
ressuscitou!” (Mt 28,6). E o amor venceu! A cruz tornou-se afirmação da vitória do
amor.
Páscoa fala-nos, pois, de uma felicidade que Deus nos oferece construída
nos caminhos do amor, nos caminhos do perdão, na atenção ao outro, no sairmos de nós
para vivermos felizes no sorriso do irmão a quem curamos feridas; nos olhos agradecidos
daquele a quem estendemos as mãos; numa vida dada, entregue, na consciência de sermos
um dom de Deus para servir.
Páscoa fala-nos de cruz, de abandono, de dor.
Mas diz-nos que, quando caminhamos fazendo de Deus e dos irmãos o centro da nossa
existência, a cruz transforma-se em caminho de vida. Do cego de Jericó, Jesus dizia
que ele nascera cego para que nele se manifestasse a glória de Deus (cf Jo 9,3). Todos
nós conhecemos pessoas com deficiência que têm um papel muito activo na sociedade.
Conhecemos pessoas que, embora pobres, com dificuldades na vida, exprimem uma felicidade
profunda. Quando damos um sentido à nossa vida, mesmo que a cruz seja pesada, sempre
teremos razões para sorrir, para saborear a vida, para sermos felizes. Mesmo com as
nossas deficiências, as nossas limitações, todos nascemos para que em nós se manifestem
as obras de Deus.
Páscoa fala-nos de vida nova, de Jesus Cristo que, por amor,
morreu para dar Vida. E a sua ressurreição é a afirmação de que vale a pena viver
no amor, mesmo que esse nos leve à cruz. Jesus dizia aos seus discípulos que quem
com Ele morresse, com Ele encontraria a Vida (cf Mt 16,25). Com Cristo temos de fazer
do amor a Deus e aos irmãos a meta da nossa existência. Optar pelo amor é optar pela
cruz porque amar nunca é fácil, mas é o único caminho que conduz à vida, a uma vida
plena.
Amar é o único caminho que nos poderá conduzir à felicidade que todos
procuramos. Não nos preocupemos se temos muitos amigos, se somos admirados; em acordar
de manhã sem problemas, sem dificuldades. Preocupemo-nos sim, em ser amigos; em libertar
o nosso coração da ambição desmedida; em aprender com Cristo a dar a vida. E seremos
felizes!