P. José de Anchieta – a história e a vida do Apóstolo do Brasil, há pouco canonizado
pelo Papa Francisco
Na rubrica “Sal
da Terra, Luz do Mundo” de hoje abordaremos uma importante decisão do Papa Francisco,
a de canonizar o Padre José de Anchieta, missionário jesuíta considerado como o Apóstolo
do Brasil. A decisão era há muito ansiada pela Igreja do Brasil e provocou grande
entusiasmo aos fiéis reunidos no Santuário Nacional de Anchieta, que aguardavam a
notícia da canonização. Nesta rubrica ouviremos um breve comentário do Padre César
Augusto dos Santos, Vice-Postulador da Causa de Canonização.
Uma salva de palmas
e o repicar dos sinos acompanharam a leitura da mensagem do Pontífice, que foi assinada
pelo Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin. No texto da mensagem enviada, o
Papa Francisco recorda as “incontáveis peripécias, dificuldades e perigos” que o missionário
jesuíta enfrentou, revelando que o seu segredo era a fé, “alicerçada no Senhor Jesus
Cristo com quem se encontrava e a quem se unia na Eucaristia”. O Santo Padre “encoraja
todos os seus devotos a tornarem-se discípulos-missionários de Jesus, implorando pela
intercessão de São José de Anchieta”. Humildade, testemunho de uma fé inabalável
em Deus, esperança e caridade: são estas as virtudes que fizeram de Anchieta um santo.
Nascido na Ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, em Espanha, P. José de Anchieta
chegou ao Brasil muito novo. Tinha apenas 19 anos em julho de 1553, e tinha entrado
para a Companhia de Jesus apenas dois anos antes. José de Anchieta, "de estatura
média, magro, mas forte e decidido no espírito, bronzeado na cor da pele, de olhos
azuis, fronte larga, alegre e amável de caráter”, passou 44 anos da sua vida percorrendo
boa parte do território do Brasil, levando a boa notícia do Evangelho aos indígenas. Terceiro
dos dez filhos da família de López de Anchieta e Diaz de Clavijo, José de Anchieta
nasceu em Tenerife (Espanha) em 1534. Parente na linha paterna da família dos Loyola,
nas suas veias corria, herdado dos avós paternos, o sangue dos judeus convertidos.
Logo foi convidado a estudar na Universidade de Coimbra em Portugal no triénio de
ouro do recém fundado Colégio das Artes. A sua vocação à vida religiosa nasceu num
clima de ideias e de liberdades morais que não a favoreciam. Mas talvez tenha sido
estimulado pelo exemplo de alguns companheiros jesuítas, que eram influentes na universidade.
De facto, as cartas de S. Francisco Xavier mexiam com a juventude universitária de
toda a Europa. Admitido ao noviciado pela Companhia de Jesus a 1° de maio de 1551
na Província de Portugal, contraiu uma grave forma de tuberculose ósseo-articular
que, aos 17 anos de idade, provocou nele uma curvatura na coluna. A sua preocupação
em ser considerado inútil para o apostolado foi muito aliviada pelas palavras consoladoras
do P. Simon Rodrigues, fundador da Província de Portugal: “Não se preocupe com esta
deformação, Deus quer que seja assim”. No ar pairava esperança: começavam a chegar
do Brasil as cartas do P. Manoel da Nóbrega, que exaltavam a salubridade do clima
daquelas terras para qualquer tipo de doença. E para aquelas terras Anchieta partiu
a 8 de março de 1553, com a terceira expedição de jesuítas que embarcavam com destino
ao Brasil. O jovem e doente jesuíta tinha já professado os seus votos de pobreza,
castidade e obediência perpétuas e naquelas terras, tomava consciência de que era
finalmente um missionário. Em menos de um ano, dominava o dialeto tupi na perfeição.
Tendo assimilado perfeitamente as tradições e valores locais, ensinava os preceitos
cristãos utilizando celebrações musicadas ao ritmo de tambores ao ar livre. Educava
e catequizava; defendia os indígenas dos abusos dos colonizadores portugueses. A pé
ou de barco, Anchieta viajou pelo País inaugurando missões e dando aulas de catequese,
gramática e conhecimentos gerais aos índios, colonos e padres. Das mãos de P. Manoel
da Nóbrega, o jovem Anchieta, poucos meses depois da chegada, recebeu a incumbência
de fundar um colégio no planalto, com o objetivo de expandir a missão no interior
da selva. No dia 25 de janeiro de 1554, festa litúrgica da conversão do apóstolo São
Paulo, os jesuítas celebraram pela primeira vez a Eucaristia no chamado Planalto de
Piratininga. O novo colégio foi dedicado ao Apóstolo dos Gentios. E São Paulo tornou-se
uma das maiores cidades do mundo. Os 44 anos em que Anchieta viveu no Brasil foram
repletos de dificuldades. Começando pela enfermidade a sua missão teve inúmeros riscos
de morte. Em maio de 1563, com o apoio dos franceses, a tribo dos Tamoios rebelou-se
contra a colonização portuguesa. O jovem missionário ofereceu-se como refém enquanto
o seu superior, P. Manoel da Nóbrega, partiu para São Vicente, para negociar um utópico,
mas alcançado tratado de paz. Naquele lugar, o apóstolo, aos 29 anos de idade, experimentou
um dos momentos mais difíceis da sua existência. Durante o seu cativeiro recebia frequentes
ameaças de morte. Em 1569, fundou a povoação de Reritiba (atual Anchieta). De
1570 a 1573, dirigiu o Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro. Em 1577, foi nomeado
Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, função que exerceu por dez anos, sendo
substituído em 1587, a seu pedido. Faleceu a 9 de junho 1597. Aos 63 anos de idade,
terminava a travessia por este mundo do incansável missionário José de Anchieta. José
de Anchieta, exemplo de amor à humanidade: assim o define o Vice-Postulador da causa
de canonização, o P. Cesar Augusto dos Santos, que é também o responsável pelo Programa
Brasileiro da Rádio Vaticano. Em entrevista a Silvonei José o P. César explicou a
decisão do Papa Francisco de canonizar Anchieta utilizando a fórmula da equipolência.
O P. César falou ainda da celebração de ação de graças que o Santo Padre presidirá
no próximo dia 24, na igreja de Santo Inácio, no centro de Roma. (RS)