Papa: "Os pecados da mídia são desinformação, calúnia e difamação"
Cidade do Vaticano
(RV) – O Papa Francisco recebeu no final da manhã deste sábado, na Sala Clementina,
no Vaticano, cerca de 400 membros da Associação “Corallo”, uma rede de comunicação
na Itália, que expressa o compromisso da Igreja de estar próxima a todas as pessoas,
onde quer que estejam, vivam, trabalhem, amem e sofram.
No discurso entregue
ao término da audiência, o Papa partiu da expressão “rede” de comunicação. Esta imagem
nos leva a pensar nos primeiros discípulos de Jesus, que trabalhavam como pescadores,
que utilizavam redes para pescar. Jesus os convidou para segui-lo, tornando-os “pescadores
de homens”. Mas antes de entregar seu discurso escrito previamente, e após a saudação
do Presidente da rede, o Pontífice falou de improviso. Eis a íntegra do pronunciamento:
“Agradeço
tanto por aquilo que o senhor disse e agradeço pelo trabalho que vocês fazem. Esta
verdade....buscar a verdade com a mídia. Mas não somente a verdade! Verdade, bondade,
beleza, as três coisas juntas. O vosso trabalho deve desenvolver-se nestes três caminhos:
o caminho da verdade, o caminho da bondade e o caminho da beleza. Mas verdades, bondades
e belezas que sejam consistentes, que venham de dentro, que sejam humanas. E, no caminho
da verdade, nos três caminhos, podemos encontrar erros, e mesmo armadilhas. “Eu penso,
busco a verdade...”: estejais atentos a não tornarem-se intelectuais sem inteligência.
“Eu vou, busco a bondade...”: estejais atentos a não tornarem-se eticistas sem bondade.
“Me agrada a beleza...”: estejais atentos a não fazer aquilo que se faz frequentemente,
“maquiar” a beleza, buscar os cosméticos para fazer uma beleza artificial que não
existe. A verdade, a bondade e a beleza é como vem de Deus e estão no homem. E este
é o trabalho da mídia, o vosso trabalho.
O senhor acenou para duas coisas e
eu gostaria de retomá-las. Antes de tudo, a unidade harmônica do vosso trabalho. Existem
as grandes mídias, as pequenas... Mas se nós lermos no Capítulo 12 da Primeira Carta
de São Paulo aos Coríntios, vemos que na Igreja não existe nem grande nem pequeno:
cada um tem a sua função, o seu ajuda o outro, a mão não pode existir sem a cabeça,
e assim por diante. Todos somos membros e também as vossas mídias, quer sejam maiores
ou menores, são membros, e harmonizados pela vocação do serviço na Igreja. Ninguém
deve sentir-se pequeno, muito pequeno em relação ao outro muito grande....
Eu
faria esta pergunta: quem é mais importante na Igreja? O Papa ou aquela velha senhora
que todos os dias reza o Rosário pela Igreja? Que o diga Deus, eu não posso dizê-lo.
Mas a importância é de cada um nesta harmonia, pois a Igreja é a harmonia da diversidade.
O Corpo de Cristo é esta harmonia da diversidade, e quem faz a harmonia é o Espírito
Santo: Ele é o mais importante de todos. Isto é o que o senhor disse e eu gostaria
de destacar. É importante: buscar a unidade e não seguir a lógica de que o peixe grande
engole o peixe pequeno.
O senhor disse também outra coisa, que também eu menciono
na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. Falou de clericalismo. É um dos
males, é um dos males da Igreja. Mas é um mal “cúmplice”, porque aos sacerdotes agrada
a tentação de clericalizar os leigos, mas tantos leigos, de joelhos, pedem para ser
clericalizados, pois é mais cômodo, é mais cômodo!. E isto é um pecado num duplo sentido!
Devemos vencer esta tentação. O leigo deve ser leigo, batizado, tem a força que vem
do seu Batismo. Servidor, mas com a sua vocação laical, e isto não se vende, não se
negocia, não se é cúmplice com o outro...Não! Eu sou assim! Porque está na identidade!,
alí. Tantas vezes escutei isto, na minha terra: “Eu na minha paróquia, sabe? Tenho
um leigo bravíssimo, este homem sabe organizar... Eminência, porque não o tornamos
diácono?”. É a proposta do padre, imediata: clericalizar. Este leigo façamo-o....
E porque? Porque é mais importante o diácono, o padre, do que o leigo? Não! É este
o erro! É um bom leigo? Que continue assim e cresça assim. Porque está na sua identidade
de pertença cristã, alí. Para mim, o clericalismo impede o crescimento do leigo. Mas
tenham presente aquilo que eu disse: é uma tentação cúmplice a duas mãos. Pois não
existiria o clericalismo se não existissem leigos que querem ser clericalizados. Está
claro isto?
Por isto agradeço aquilo que vocês fazem. Harmonia: Também esta
é uma outra harmonia, pois a função do leigo não pode fazer o sacerdote, e o Espírito
Santo é livre: algumas vezes inspira o padre a fazer uma coisa, outras vezes inspira
o leigo. Se fala, no Conselho Pastoral. Tão importantes são os Conselhos Pastorais:
uma paróquia – e nisto cito o Código de Direito Canônico – uma paróquia que não tem
um Conselho Pastoral e Conselho de Assuntos econômicos, não é uma boa paróquia, falta
vida.
Depois, são tantas as virtudes. Acenei para isto no início: seguir a
estrada da bondade, da verdade e da beleza, e tantas virtudes neste caminho. Mas existem
também os pecados da mídia! Permito-me falar um pouco sobre isto. Para mim, os pecados
da mídia, os maiores, são aqueles que seguem pelo caminho da mentira e são três: a
desinformação, a calúnia e a difamação. Estes dois últimos são graves, mas não tão
perigosos como o primeiro. Por que? Vos explico. A calúnia é pecado mortal, mas se
pode esclarecer e chegar a conhecer que aquela é uma calúnia. A difamação é um pecado
mortal, mas se pode chegar a dizer: ‘esta é uma injustiça, porque esta pessoa fez
aquela coisa naquele tempo, depois se arrependeu, mudou de vida’. Mas a desinformação
é dizer a metade das coisas, aquilo que para mim é mais conveniente e não dizer a
outra metade. E assim, aquilo que vejo na TV ou aquilo que escuto na rádio não posso
fazer um juízo perfeito, pois não tenho os elementos e não nos dão estes elementos.
Destes três pecados, por favor, fujam! Desinformação, calúnia e difamação.
Vos
agradeço por aquilo que fazem. Disse a Dom Sanchirico para entregar a vocês o discurso
que havia escrito: mas as suas palavras (do Presidente) inspiraram-me para vos dizer
isto espontaneamente e o disse com uma linguagem do coração. Sintam o que disse desta
maneira. Não com a língua italiana, porque eu não falo com o estilo de Dante!. Vos
agradeço tanto e agora vos convido a rezar uma Ave maria a Nossa Senhora para vos
dar a bênção.”