Ser consciência crítica da nação; sair em missão; exprimir a Boa Nova nas línguas
locais: Papa aos Bispos de Timor Leste
Nesta segunda-feira, ao fim da manhã, o Papa Francisco recebeu os três bispos que
constituem a Conferência Episcopal de Timor Leste: o respectivo Presidente, D. Basílio
do Nascimento, bispo de Baucau; D. Alberto RIcardo da Silva, bispo de Dili; e D. Norberto
do Amaral, bispo de Maliana. O Papa Francisco encorajou-os a prosseguirem com diligência
a sua atividade de acompanhamento das pessoas e comunidades, promovendo a formação
de todos – padres e leigos – e encontrando nas culturas locais sinais cada vez mais
eloquentes para exprimir a mensagem do Evangelho. Referindo com agrado a recente
instituição, em 2011, da Conferência Episcopal Timorense, o Santo Padre congratulou-se
com “o espírito fraterno que anima o povo timorense e os seus líderes na construção
duma nação livre, solidária e justa para todos”. Recordando que a última visita “ad
limina” dos Bispos de Timor teve lugar em outubro de 2002 (“poucos meses depois do
suspirado e venturoso nascimento da vossa Pátria”), o Papa Francisco sublinhou a necessidade
de que os pastores da Igreja timorense continuem a “desempenhar a função de consciência
crítica da nação, mantendo para isso a devida independência do poder político, numa
colaboração equidistante que lhe deixe a responsabilidade de cuidar e promover o bem
comum da sociedade”. O Papa lembrou que “a Igreja pede apenas uma coisa no âmbito
da sociedade: a liberdade de anunciar o Evangelho de modo integral, mesmo quando vai
contra corrente” e encorajou os bispos timorenses a oferecer esta contribuição da
Igreja para bem da sociedade inteira. Papa Francisco não deixou de referir a misericórdia
de Deus Pai revelada em seu Filho Jesus. “Sem a misericórdia (observou), poucas possibilidades
temos hoje de nos inserir num mundo de “feridos” que tem necessidade de compreensão,
de perdão, de amor. Por isso, não me canso de chamar a Igreja inteira à «revolução
da ternura». Os agentes de evangelização devem ser capazes de aquecer o coração das
pessoas, de caminhar na noite com elas, de dialogar com as suas ilusões e desilusões,
de recompor as suas desintegrações. Sem diminuir o valor do ideal evangélico, é preciso
acompanhar, com misericórdia e paciência, as etapas possíveis de crescimento das pessoas,
que se vão construindo dia após dia.”
O Santo Padre sublinhou também “a necessidade
de evangelizar as culturas para inculturar o Evangelho”. “Se, nos vários contextos
culturais de Timor Leste (observou), a fé e a evangelização não forem capazes de dizer
Deus, anunciar a vitória de Cristo sobre o drama da condição humana, abrir espaços
para o Espírito renovador, é porque não estão suficientemente vivas nos fiéis cristãos,
que necessitam de um caminho de formação e amadurecimento. Isto «implica tomar muito
a sério em cada pessoa o projecto que Deus tem para ela.”
A concluir as suas
palavras aos Bispos de Timor Leste, o Santo Padre resumiu em três pontos o que fundamental
lhes queria dizer, retomando aliás as preocupações por estes manifestadas: “o primeiro,
a vossa contribuição como consciência crítica da nação; o segundo, movida por entranhas
de misericórdia, a Igreja inteira sai em missão; e, enfim, exprimir a Boa Nova da
salvação nas línguas locais.” E recordou uma vez mais que “o lugar do Bispo pode ser
triplo: à frente, para indicar o caminho ao seu povo; no meio, para o manter unido
e neutralizar debandadas; ou atrás, para evitar que alguém se atrase ou desgarre,
mas, fundamentalmente, porque o próprio rebanho é dotado de olfacto para encontrar
novos caminhos: o sentido da fé. Em todo o caso (concluiu), sede homens capazes de
sustentar, com amor e paciência, os passos de Deus em seu povo e valorizai tudo aquilo
que o mantém unido, acautelando de eventuais perigos, mas sobretudo fazendo crescer
a esperança: haja sol e luz nos corações!”
(Leia versão integral do discurso
do Papa na Secção Mensagens e Documentos)
Rafael Belincanta recolheu antecipadamente
algumas declarações de D. Basílio do Nascimento, antes de mais sobre o que tencionam
dizer ao Santo Padre:
- Nós, primeiro,
vamos apresentar aquilo que Timor é, para pegar em duas palavras que são caras a Papa
Francisco: a periferia: é um País da periferia. Periferia em relação aos grandes centros
de desenvolvimento do mundo e, depois, é um país do “fim do mundo”. Acho que em relação
ao Timor essa expressão tem toda a pertinência porque de fato aqui é o fim do mundo.
Mas é um País que, apesar de tudo, apesar da sua pequenez, apesar de ser recentemente
independente, é um país com tradição católica de 500 anos. De maneira que, uma das
coisas que vamos apresentar ao Papa é um convite para ver se a Sua Santidade se disponibiliza
a vir celebrar conosco os 500 anos de presença portuguesa mas sobretudo de evangelização,
a comemorar-se em 2015. Outra coisa é apresentar o que é a vida da Igreja timorense
na realidade e apresentar também as nossas dificuldades, as nossas carências e sobretudo
a realidade que estamos a viver hoje como Igreja.
- Qual é o grande
desafio para as três dioceses do Timor Leste?
- Fundamentalmente é a
formação das pessoas. Quando disse que o Timor Leste tem 97% da população católica,
de fato o é, mas para sermos mais realistas, temos 97% de batizados. Porque a formação
cristã é muito defeituosa. Tudo isso é fruto da situação da guerra em que muita gente
foi batizada pura e simplesmente por circunstância, digamos assim, só que a Igreja
depois não teve ainda tempo de criar estruturas, sobretudo em nível de recursos humanos,
para instruir, para formar, estes batizados todos na fé cristã. Para nós, o grande
desafio é este. E depois também, como sabe, um País que começa, mesmo em nível de
estruturas de formação, estamos bastante carentes. De maneira que hoje em dia o nível
de formação do clero também está bastante deficiente, a formação dos agentes pastorais
também está bastante deficiente. Estamos a tentar ajudas, sobretudo em nível de recursos
humanos, para as Igrejas irmãs. Até aqui pedimos para Portugal. Este ano, Brasil já
nos deu alguma coisa. Realizou-se mais um projeto mais concreto, vindo professores
recomentados pela CNBB (Conferência Episcopal Brasileira), para formar professores
no Seminário Maior. De maneira que, para sintetizar, a maior preocupação nossa, a
maior dificuldade, é a formação em todos os níveis, dos quadros humanos.
Para
além dos Bispos de Timor Leste, o Papa Francisco recebe nesta segunda-feira de manhã,
no Palácio Apostólico: - Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuch, Arcebispo-mor de
Kiev, na Ucrânia; - o arcebispo Nicola Girasole, Núncio Apostólico na Jamaica,
Grenada, Santa Lucia, Suriname e nos outros países das Antilhas, onde é também Delegado
Apostólico. Às 12.45, o Santo Padre recebe, já na Casa de Santa Marta, a Presidente
da República da Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner.