Abuso de menores. Dom Tomasi ao Comitê ONU: texto já escrito, definições ideológicas
Cidade do Vaticano (RV) - A Santa Sé acolheu com surpresa, nesta quarta-feira,
as observações conclusivas do Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança que acusa
duramente o Vaticano sobre a questão de abusos contra menores cometidos por membros
do clero. As observações foram apresentadas, nesta quarta-feira, em Genebra, na Suíça.
Segundo
o organismo das Nações Unidas, a Santa Sé continuaria violando a Convenção sobre os
Direitos da Criança. O comitê critica também o Vaticano por suas posições sobre a
homossexualidade, contracepção e aborto.
Entrevistado pela Rádio Vaticano,
o Observador Permanente da Santa Sé na ONU, em Genebra, Dom Silvano Maria Tomasi,
fala sobre como a Santa Sé reagiu a essas acusações.
Dom Tomasi:"O
Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança apresentou hoje suas conclusões e recomendações
para os países que foram examinados durante esta 65ª sessão. São eles: Congo, Alemanha,
Santa Sé, Portugal, Federação Russa e Iêmen. Primeira impressão: é preciso esperar,
ler atentamente e analisar detalhadamente o que escrevem os membros desta comissão,
mas a primeira reação foi de surpresa, porque o aspecto negativo do documento que
produziram faz pensar que tenha sido preparado antes da reunião da Comissão com a
delegação da Santa Sé, que deu em detalhes respostas precisas sobre vários pontos,
que não foram, em seguida, incluídas no documento final ou pelo menos não parecem
ter sido levadas seriamente em consideração. De fato, o documento parece não ter sido
atualizado, considerando o que nesses últimos anos foi feito no âmbito de Santa Sé,
com as medidas tomadas diretamente pela autoridade do Estado da Cidade do Vaticano
e depois pelas Conferências Episcopais nos vários países. Portanto, falta a perspectiva
correta e atualizada que realmente viu uma série de mudanças para a proteção das crianças
que me parece difícil de encontrar, no mesmo nível de compromisso, em outras instituições
ou até mesmo em outros Estados. Isto é simplesmente uma questão de fatos e evidências
que não podem ser distorcidos!"
Como responder de maneira precisa a
essas acusações do Comitê da ONU?
Dom Tomasi:"Não se pode em
dois minutos responder a todas as afirmações feitas – algumas muito injustas – no
documento conclusivo do Comitê. A Santa Sé responderá, porque é um membro, um Estado
Parte da Convenção, que a ratificou e pretende observar no espírito e na letra essa
Convenção, sem acréscimos ideológicos ou imposições que estão fora da Convenção. Por
exemplo, a Convenção sobre a proteção das crianças, em seu preâmbulo, fala da defesa
da vida e da proteção das crianças antes e depois do nascimento; enquanto a recomendação
que é feita à Santa Sé é a de mudar a sua posição sobre a questão do aborto! É claro
que, quando uma criança é morta não existem mais direitos! Então, isso me parece uma
verdadeira contradição com os objetivos fundamentais da Convenção que é o de proteger
as crianças. Este Comitê não fez um bom serviço para as Nações Unidas, tentando introduzir
e pedir à Santa Sé de mudar o seu ensinamento não negociável! É um pouco triste ver
que o Comitê não compreendeu a natureza e as funções da Santa Sé, que expressou claramente
ao Comitê a sua decisão de realizar os pedidos da Convenção sobre os Direitos da Criança,
mas definindo e protegendo primeiramente os valores fundamentais que tornam a proteção
da criança real e eficaz."
A ONU tinha dito no início que o Vaticano
havia respondido melhor do que outros países sobre a proteção dos menores: o que mudou?
Dom
Tomasi: "Na introdução do relatório final foi reconhecida a clareza das respostas;
não se procurou evitar nenhum pedido feito pelo Comitê, com base na evidência disponível,
e onde não tinha uma informação imediata, foi prometido fornecê-la no futuro, segundo
as diretrizes da Santa Sé, assim como fazem todos os governos. Parecia um diálogo
construtivo e acredito que deva permanecer como tal. Portanto, considerada a impressão
que tivemos do diálogo direto da Delegação da Santa Sé com o Comitê e o texto das
conclusões e recomendações, é tentador dizer que provavelmente aquele texto já tinha
sido escrito e não reflete os suplementos e a clareza, com exceção de algumas atualizações
de última hora. Portanto, devemos, com serenidade e com base nas evidências – porque
não temos nada a esconder – levar a diante a explicação das posições da Santa Sé,
responder às perguntas que ainda permanecem, de modo que o objetivo fundamental que
deve ser atingido - a proteção das crianças – possa ser alcançado. Fala-se de 40 milhões
de casos de abusos de crianças no mundo. Infelizmente, alguns desses casos – embora
em proporções reduzidas em comparação com tudo o que está acontecendo no mundo – dizem
respeito a membros da Igreja e a Igreja respondeu, reagiu e continua a fazê-lo! Devemos
insistir nesta política de transparência e não tolerância de abusos, porque até mesmo
um só caso de abuso de criança é demais!
O que pode ter acontecido?
Dom
Tomasi: "Provavelmente, as organizações não-governamentais - que têm interesse
na homossexualidade, no casamento gay e outras questões – apresentaram certamente
suas observações e de alguma forma reforçaram uma linha ideológica". (MJ)