Papa às famílias: muitas vezes a vida é árdua, mas o que mais pesa é a falta de amor
Cidade do Vaticano (RV) - A Praça São Pedro foi cenário, na tarde deste sábado,
de um grande encontro de festa que reuniu famílias do mundo inteiro no âmbito da peregrinação
"Família, vive a alegria da Fé". Às 14h locais abriram-se as entradas da Praça São
Pedro para acolher milhares de pessoas que já numerosas afluíam ao Vaticano.
O
encontro desenvolveu-se com cantos e manifestações musicais, apresentação de grupos
à espera do Papa Francisco, que às 17h20 locais chegou à Praça após passar pela Basílica
Vaticana, sendo calorosamente acolhido pela multidão que o aguardava.
O Papa
foi recebido por um grupo de dez crianças e por seus avós, sendo saudado por uma criança
acompanhada da avó. Após as boas-vindas ao Santo Padre feitas pelo presidente do Pontifício
Conselho para a Família, Dom Vincenzo Paglia, seguiram-se os testemunhos sobre as
alegrias e as dificuldades da vida familiar, o discurso do Papa e o ato de Profissão
de Fé, representando as famílias do mundo inteiro.
A seguir, na íntegra, o
discurso que o Papa dirigiu aos presentes:
"Queridas famílias, boa tarde!
Bem-vindas
a Roma! Viestes, como peregrinas, de muitas partes do mundo, para professar a vossa
fé diante do túmulo de São Pedro. Esta praça acolhe-vos e abraça-vos: somos um só
povo, com uma só alma, convocados pelo Senhor, que nos ama e sustenta. Saúdo também
a todas as famílias que estão unidas através da televisão e da internet: uma praça
que se espraia sem confins! Quisestes chamar a este momento «Família, vive a alegria
da fé!» Gosto deste título! Entretanto escutei as vossas experiências, os casos que
contastes. Vi tantas crianças, tantos avós... Pressenti a tristeza das famílias que
vivem em situação de pobreza e de guerra. Ouvi os jovens que se querem casar, mesmo
por entre mil e uma dificuldades. E então surge-nos a pergunta: Como é possível, hoje,
viver a alegria da fé em família?
1. No Evangelho de Mateus, há uma palavra
de Jesus que vem em nossa ajuda: «Vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos,
que Eu hei-de aliviar-vos» (Mt 11, 28). Muitas vezes a vida é gravosa. Trabalhar é
fatigante; procurar trabalho é fatigante. Mas, aquilo que mais pesa na vida é a falta
de amor. Pesa não receber um sorriso, não ser benquisto. Pesam certos silêncios, às
vezes mesmo em família, entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre irmãos.
Sem amor, a fadiga torna-se mais pesada. Penso nos idosos sozinhos, nas famílias em
dificuldade porque sem ajuda para sustentarem quem em casa precisa de especiais atenções
e cuidados. «Vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos», diz Jesus. Queridas
famílias, o Senhor conhece as nossas canseiras e os pesos da nossa vida. Mas conhece
também o nosso desejo profundo de achar a alegria do lenitivo. Lembrais-vos? Jesus
disse: «A vossa alegria seja completa» (Jo 15, 11). Disse-o aos apóstolos, e hoje
repete-o a nós. Assim, esta é a primeira coisa que quero partilhar convosco nesta
tarde, e é uma palavra de Jesus: Vinde a Mim, famílias de todo o mundo, e Eu vos hei-de
aliviar, para que a vossa alegria seja completa.
2. A segunda palavra, tomo-a
do rito do Matrimônio. Neste sacramento, quem se casa diz: «Prometo ser-te fiel, amar-te
e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa
vida». Naquele momento, os esposos não sabem quais são as alegrias e as tristezas
que os esperam. Partem, como Abraão; põem-se juntos a caminho. Isto é o matrimônio!
Partir e caminhar juntos, de mãos dadas, entregando-se na mão grande do Senhor. Com
esta confiança na fidelidade de Deus, tudo se enfrenta, sem medo, com responsabilidade.
Os esposos cristãos não são ingênuos, conhecem os problemas e os perigos da vida.
Mas não têm medo de assumir a própria responsabilidade, diante de Deus e da sociedade.
Sem fugir nem isolar-se, sem renunciar à missão de formar uma família e trazer ao
mundo filhos. - Mas hoje, Padre, é difícil… - Sem dúvida que é difícil! Por isso,
vale a graça do sacramento! Os sacramentos não servem para decorar a vida; o sacramento
do Matrimônio não se reduz a uma linda cerimônia! Os cristãos casam-se sacramentalmente,
porque estão cientes de precisarem do sacramento! Precisam dele para viver unidos
entre si e cumprir a missão de pais. «Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença».
Eles, no seu Matrimônio, rezam juntos e com a comunidade, porquê? Só porque é costume
fazer assim? Não! Fazem-no, porque lhes serve para a longa viagem que devem fazer
juntos: precisam da ajuda de Jesus, para caminharem juntos com confiança, acolherem-se
um ao outro cada dia e perdoarem-se cada dia. Na vida, a família experimenta muitos
momentos felizes: o descanso, a refeição juntos, o passeio até ao parque ou pelos
campos, a visita aos avós, a uma pessoa doente... Mas, se falta o amor, falta a alegria,
falta a festa; ora o amor é sempre Jesus quem no-lo dá: Ele é a fonte inesgotável,
e dá-Se a nós na Eucaristia. Nela, Jesus dá-nos a sua Palavra e o Pão da vida, para
que a nossa alegria seja completa.
3. Está aqui, diante de nós, este ícone
da Apresentação de Jesus no Templo. É um ícone verdadeiramente belo e importante.
Fixemo-lo e deixemo-nos ajudar por esta imagem. Como todos vós, também os protagonistas
da cena têm o seu caminho: Maria e José puseram-se a caminho, indo como peregrinos
a Jerusalém, obedecendo à Lei do Senhor; e o velho Simeão e a profetisa Ana, também
ela muito idosa, vêm ao Templo impelidos pelo Espírito Santo. A cena mostra-nos este
entrelaçamento de três gerações: Simeão segura nos braços o menino Jesus, em quem
reconhece o Messias, e Ana é representada no gesto de louvar a Deus e anunciar a salvação
a quem esperava a redenção de Israel. Estes dois anciãos representam a fé como memória.
Maria e José são a Família santificada pela presença de Jesus, que é o cumprimento
de todas as promessas. Cada família, como a de Nazaré, está inserida na história de
um povo e não pode existir sem as gerações anteriores.
Queridas famílias,
também vós fazeis parte do povo de Deus. Caminhai felizes, juntamente com este povo.
Permanecei sempre unidas a Jesus e levai-O a todos com o vosso testemunho. Obrigado
por terdes vindo. Juntos, façamos nossas estas palavras de São Pedro, que nos têm
dado força e continuarão a dar nos momentos difíceis: «A quem iremos nós, Senhor?
Tu tens palavras de vida eterna!» (Jo 6, 68). Com a graça de Cristo, vivei a alegria
da fé! O Senhor vos abençoe e Maria, nossa Mãe, vos acompanhe!"
O encontro
concluiu-se com a Profissão de Fé, seguida da oração do Pai-Nosso e a Ave-Maria.
E
as famílias têm novo encontro marcado para este domingo, na Praça São Pedro, prosseguindo
assim a festa da Família neste Ano da Fé. De fato, pela manhã às 10h (6h do horário
brasileiro de verão) o Pontífice presidirá à santa missa.
A celebração será
transmitida pela Rádio Vaticano, ao vivo, via satélite, para todo o Brasil e demais
países de língua portuguesa cujas emissoras nos retransmitem, a partir das 5h50 do
horário brasileiro de verão. (RL)