"Toda criança não nascida tem a face de Jesus", afirma o Papa a médicos católicos
Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu esta sexta-feira, no Vaticano,
os participantes do X Encontro da Federação Internacional das Associações Médicas
Católicas. De 18 a 22 de setembro, médicos de todo o mundo debatem em Roma o tema
“Catolicismo e cuidados maternos”.
Em seu discurso, o Pontífice propõe três
reflexões, sendo a primeira delas a “situação paradoxal” que se assiste hoje em relação
à profissão médica. De um lado, os progressos da medicina e, de outro, o perigo de
que o médico perca a sua identidade de servidor da vida.
“A situação paradoxal
se constata no fato de que, enquanto se atribuem novos direitos à pessoa, nem sempre
se tutela a vida como valor primário e direito primordial de todo homem. O fim último
do agir médico permanece sempre a defesa e a promoção da vida.”
Neste contexto
contraditório, a Igreja apela à consciência de todos os profissionais e voluntários
da saúde, de modo especial aos ginecologistas, chamados a colaborar ao nascimento
de novas vidas humanas.
Uma mentalidade difundida do útil, a “cultura do descartável”,
que hoje escraviza o coração e a inteligência de muitas pessoas, tem um custo altíssimo:
pede que se eliminem seres humanos, sobretudo se fisicamente ou socialmente mais fracos.
A nossa resposta a esta mentalidade é um “sim” à vida, convicto e sem hesitações.
As coisas têm preços e podem ser vendidas, mas as pessoas têm dignidade, valem mais
do que as coisas e não têm preço. Por isso, a atenção à vida humana na sua totalidade
se tornou nos últimos tempos uma prioridade do Magistério da Igreja.
No ser
humano frágil, afirma ainda Francisco, cada um de nós é convidado a reconhecer a face
do Senhor, que na sua carne humana experimentou a indiferença e a solidão às quais
frequentemente condenamos os mais pobres, seja nos países em desenvolvimento, seja
nas sociedades opulentas. Toda criança não nascida, mas condenada injustamente ao
aborto, tem a face do Senhor, que antes mesmo de nascer, e logo recém-nascida, experimentou
a rejeição do mundo. E cada idoso, mesmo se doente ou no final de seus dias, traz
consigo a face de Cristo. Não podem ser descartados!
O terceiro aspecto, disse
o Papa, é um mandato: sejam testemunhas e difusores desta “cultura da vida”. Ser católico
comporta uma maior responsabilidade, antes de tudo para consigo mesmo, pelo empenho
de coerência com a vocação cristã, e depois para com a cultura contemporânea, para
contribuir a reconhecer na vida humana a dimensão transcendente, o vestígio da obra
criadora de Deus, desde o primeiro instante da sua concepção. Trata-se de um empenho
de nova evangelização que requer, com frequência, ir contra a corrente, pagando pessoalmente.
O Senhor conta com vocês para difundir o “evangelho da vida”.
Nesta perspectiva,
afirmou ainda o Pontífice, os departamentos de ginecologia são locais privilegiados
de testemunho e de evangelização.
“Queridos médicos, vocês que são chamados
a se ocuparem da vida humana em sua fase inicial, lembrem a todos, com fatos e palavras,
que esta é sempre, em todas as suas fases e em todas as idades, sagrada e sempre de
qualidade. E não por um discurso de fé, mas de razão e de ciência! Não existe uma
vida humana mais sagrada do que outra, assim como não existe uma vida humana qualitativamente
mais significativa de outra. A credibilidade de um sistema de saúde não se mede somente
pela eficiência, mas sobretudo pela atenção e pelo amor dispensados às pessoas, cuja
vida é sempre sagrada e inviolável”, concluiu Francisco, recordando aos médicos que
jamais deixem de pedir ao Senhor e à Virgem Maria a força de realizar bem o seu trabalho
e testemunhar com coragem o “evangelho da vida”.