Papa Francisco encontrou Presidência da CNBB, Cardeais e Bispos brasileiros: "a humildade
está no DNA de Deus"
Rio de Janeiro (RV) – O último compromisso do Papa Francisco neste sábado,
antes do encontro com os jovens Na Vigília na Praia de Copacabana, foi o encontro
e almoço com 300 Bispos brasileiros e a Presidência da CNBB, na sede Arcebispado do
Rio de Janeiro. O Papa leu seu longo e denso discurso percorrendo diversos aspectos
da Igreja no Brasil, iniciando por Aparecida, "onde Deus ofereceu ao Brasil sua própria
mãe e onde Deus deu também uma lição sobre si mesmo, sobre seu modo de agir. Uma lição
sobre a humildade que pertence a Deus como traço essencial: ela está no DNA de Deus" O
documento aborda diversos tópicos, como o ‘Apreço pelo percurso da Igreja no Brasil’,
o ‘Ícone de Emaús como chave de leitura do presente e do futuro’, ‘Os desafios da
Igreja no Brasil’, além de abordar temas como a Colegialidade, missão, função da Igreja
no Brasil e Amazônia. O encontro, a pedido do Papa, não foi gravado em áudio ou vídeo
para não perder a familiaridade a que se destinava. O Papa foi saudado pelo Cardeal
Damasceno Assis.
“A força da Igreja “não está em si mesma”, mas “esconde-se
nas águas profundas de Deus nas quais é chamada a lançar as redes”, afirmou o Papa
Francisco retomando assim no seu discurso a história de Nossa Senhora de Aparecida.
Na
origem da história de Aparecida estão três pobres pescadores que lançam as redes mas
não conseguem pegar nada, até pescar uma imagem de cerâmica, primeiro o corpo e após
a cabeça. É a imagem da Imaculada Conceição. Somente então conseguem pegar uma grande
quantidade de peixe. O Papa Francisco faz referência a esta história para sublinhar
que Deus chegou de surpresa. Os pescadores, de sua parte, não desprezam o mistério
encontrado no rio, embora seja ainda um mistério incompleto:
“Existe algo de
sábio que devemos aprender. Existem pedaços de um mistério, como peças de um mosaico,
que encontramos e vemos. Nós queremos ver muito rápido o todo e deus, ao contrário,
se revela pouco a pouco. Também a Igreja deve aprender esta espera”.
Os pescadores,
após, levam a casa o mistério, confiam a Virgem a sua causa e “permitem assim que
as intenções de Deus possam atuar: uma graça, depois outra”. O Senhor desperta no
homem o desejo de cuidá-Lo no próprio coração e não o desejo de chamar os vizinhos
para fazer conhecer a sua beleza. Mas sem a simplicidade da sua atitude, “a nossa
missão está destinada ao fracasso”.
“O barco da Igreja, então, o resultado
do trabalho pastoral não deve se basear na riqueza dos recursos, mas na criatividade
do amor. Servem certamente a tenacidade e organização, mas antes de tudo é necessário
“saber que a força da Igreja não reside nela própria, mas se esconde nas águas profundas
de Deus, nas quais ela é chamada a lançar as redes”. A Igreja, assim, não pode afastar-se
da simplicidade:
“Às vezes perdemos aqueles que não nos entendem, porque
desaprendemos a simplicidade, inclusive importando de fora uma racionalidade alheia
ao nosso povo. Sem a gramática da simplicidade, a Igreja se priva das condições que
tornam possível ‘pescar Deus’ nas águas profundas do seu Mistério”.
Francisco
recordou que a Igreja no Brasil aplicou “com originalidade o Concílio Vaticano II
e o percurso realizado, mesmo tendo que superar certas enfermidades infantis, levando
a uma Igreja gradualmente mais madura, aberta, generosa, missionária”.
A
partir daí, o Papa concentrou-se na passagem dos Discípulos de Emaús, escandalizados
pela aparente derrota do messias. O pensamento dirigiu-se a todos que abandonam a
Igreja por talvez ela parecer muito fria, talvez muito auto-referencial, talvez muito
prisioneira das próprias linguagens rígidas. Diante desta situação, “é necessário
uma Igreja que não tenha medo de sair na sua noite”, disse Francisco.
“Serve
uma Igreja capaz de interceptar o caminho deles. Serve uma Igreja capaz de inserir-se
na sua conversa. Serve uma Igreja que saiba dialogar com estes discípulos, que, fugindo
de Jerusalém, vagam sem uma meta, sozinhos, com o próprio desencanto, com a desilusão
de um cristianismo considerado hoje um ‘terreno estéril’, infecundo, incapaz de gerar
um sentido”. (JE)