Papa visita Hospital São Francisco:"Precisamos todos aprender a abraçar quem passa
necessidade, como Francisco"
Rio de Janeiro (RV) – Após visitar o Santuário Nacional de Aparecida, o Papa
Francisco foi de helicóptero até a Base Aérea de São José dos Campos, onde embarcou
num avião até o Aeroporto Santos Dumont. De lá seguiu em carro fechado – devido à
chuva - até o Hospital São Francisco, distante 16 km do aeroporto, onde chegou às
16hs20min, sendo calorosamente acolhido pelos presentes, entre eles o Secretário da
Saúde do Rio de Janeiro, Sérgio Luiz Cortês da Silveira, o Arcebispo do Rio de Janeiro,
Dom Orani João Tempesta, além de autoridades civis e religiosas.
Protegido
por um guarda-chuva, o Papa saudou os inúmeros fiéis que o aguardavam, envolvidos
por capas e guarda-chuvas. Após, o Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta,
saudou o Pontífice, destacando esta iniciativa – que se une a outras – do Pólo de
Atenção Especial à Saúde Mental, que pode receber 70 pessoas em crise de dependência.
A seguir, falou o Diretor da Associação ‘São Francisco de Assis na Providência de
Deus’, que apresentou a rede de trabalho com os dependentes químicos, formada pela
Arquidiocese e por outras entidades e organizações. Dois jovens em recuperação deram
o seu testemunho e a seguir, o franciscano coordenador do projeto, fez um efusivo
pronunciamento.
O Santo Padre iniciou seu discurso saudando as autoridades
civis e religiosas presentes, assim como os membros da Venerável Ordem Terceira de
São Francisco da Penitência, médicos, enfermeiros, demais profissionais de saúde e
os jovens em recuperação. Após, afirmou que “Deus quis que meus passos, depois do
Santuário de Nossa Senhora Aparecida, se dirigissem para um particular santuário do
sofrimento humano, que é o Hospital São Francisco de Assis”. E acrescentou:
“É
bem conhecida a conversão do Santo Patrono de vocês: o jovem Francisco abandona riquezas
e comodidades do mundo para fazer-se pobre no meio dos pobres, entende que não são
as coisas, o ter, os ídolos do mundo a verdadeira riqueza e que estes não dão a verdadeira
alegria, mas sim seguir a Cristo e servir aos demais; mas talvez seja menos conhecido
o momento em que tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi quando abraçou um leproso.
Aquele irmão sofredor foi «mediador de luz (…) para São Francisco de Assis» (Carta
enc. Lumen fidei, 57), porque, em cada irmão e irmã em dificuldade, nós abraçamos
a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a dependência química,
quero abraçar a cada um e cada uma de vocês - vocês que são a carne de Cristo – e
pedir a Deus que encha de sentido e de esperança segura o caminho de vocês e também
o meu”.
O Papa destacou em seguida a necessidade que todos temos de “aprender
a abraçar quem passa necessidade”, citando São Francisco. E observa que no Brasil
e no mundo existem tantas situações “que reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta
contra a dependência química”, denunciando os ‘mercadores da morte’, que seguem a
lógica do poder e do dinheiro a todo custo:
“A chaga do tráfico de drogas,
que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade
um ato de coragem. Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias
partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência
química. É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas,
promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida
comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos
todos de olhar o outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa
necessidade, para expressar solidariedade, afeto e amor”.
Francisco observa
porém, que somente abraçar não é suficiente, mas que “é necessário estender a mão
a quem vive em dificuldade, a quem caiu na escuridão da dependência, talvez sem saber
como, e que devemos dizer a quem vive nesta situação, de que é possível sair desta
situação e que a própria pessoa é protagonista deste ato:
“Você pode se
levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser. Queridos amigos,
queria dizer a cada um de vocês, mas sobretudo a tantas outras pessoas que ainda não
tiveram a coragem de empreender o mesmo caminho de vocês: Você é o protagonista da
subida; esta é a condição imprescindível! Você encontrará a mão estendida de quem
quer lhe ajudar, mas ninguém pode fazer a subida no seu lugar. Mas vocês nunca estão
sozinhos! A Igreja e muitas pessoas estão solidárias com vocês. Olhem para frente
com confiança; a travessia é longa e cansativa, mas olhem para frente, existe «um
futuro certo, que se coloca numa perspectiva diferente relativamente às propostas
ilusórias dos ídolos do mundo, mas que dá novo impulso e nova força à vida de todos
os dias». A vocês todos quero repetir: Não deixem que lhes roubem a esperança! Mas
digo também: Não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores
de esperança!”.
A partir daqui, o Santo Padre retoma a parábola do Bom
Samaritano – objeto de sua reflexão no Angelus do domingo 14 de julho - que fala de
um homem que foi atacado por assaltantes e deixado quase morto ao lado da estrada.
As pessoas passam, olham, mas não param; indiferentes seguem o seu caminho: não é
problema delas! Somente um samaritano, um desconhecido, olha, para, levanta-o, estende-lhe
a mão e cuida dele , e diz:
“Queridos amigos, penso que aqui, neste Hospital,
se concretiza a parábola do Bom Samaritano. Aqui não há indiferença, mas solicitude.
Não há desinteresse, mas amor. A Associação São Francisco e a Rede de Tratamento da
Dependência Química ensinam a se debruçar sobre quem passa por dificuldades porque
vêem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que sofre.
Obrigado a todo pessoal do serviço médico e auxiliar aqui empenhado! O serviço de
vocês é precioso! Realizem-no sempre com amor; é um serviço feito a Cristo presente
nos irmãos: «Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus
irmãos, foi a mim que o fizestes» (Mt 25, 40), diz-nos Jesus”.
Ao concluir,
o Papa Francisco recorda a todos que lutam contra a dependência química e aos familiares,
a proximidade da Igreja na sua luta, convidando-os a confiar no amor maternal de Maria:
“a Igreja não está longe dos esforços que vocês fazem, Ela lhes acompanha
com carinho. O Senhor está ao lado de vocês e lhes conduz pela mão. Olhem para Ele
nos momentos mais duros e Ele lhes dará consolação e esperança. E confiem também no
amor materno de Maria, sua Mãe. Esta manhã, no Santuário da Aparecida, confiei cada
um de vocês ao seu coração. Onde tivermos uma cruz para carregar, ao nosso lado sempre
está Ela, nossa Mãe. Deixo-lhes em suas mãos, enquanto, afetuosamente, a todos abençôo”.
Ao
final, todos fizeram uma oração, recebendo a bênção do Papa Francisco, que deixou
o local às 19hs40min. Para ouvir o pronunciamento do Santo Padre, basta clicar: