Ginetta Calliari: "Tudo é possível àquele que crê"
Cidade do Vaticano (RV) – No âmbito do Ano da Fé e da preparação para a Jornada
Mundial da Juventude - que propõe aos jovens 'uma fé missionária' -, brilha o carisma
de Ginetta Calliari, considerada no Brasil, como co-fundadora do Movimento dos Focolares.
A fase diocesana do processo de beatificação foi concluída em Osasco (SP), em 8 de
março de 2013.
Nos últimos anos, a memória desta 'quase brasileira' nascida
na Itália, foi celebrada na Câmara dos Deputados em Brasília e em Assembléias Legislativas
de dez Estados brasileiros. Agraciada com o título de cidadã honorária de São Paulo
e reconhecida como ‘modelo de vida’ para judeus e budistas. Desde 1944, dividiu com
Chiara Lubich e o primeiro grupo que a havia seguido, as grandes descobertas e provações
dos tempos da fundação e expansão do Movimento dos Focolares na Itália e no mundo.
Ginetta
nasceu em Lavis, uma pequena localidade nas proximidades de Trento, norte da Itália,
em 15 de outubro de 1918. É a segunda de três filhas. Devido ao seu caráter inquieto
e rebelde, era conhecida na família como 'filha do pós-guerra'. Seus pais eram de
origem humilde e muito religiosos.
Seu temperamento dominador a levava a prevalecer
sobre os outros: “desde pequena – confessa – todos deviam estar submetidos a mim”.
Ao mesmo tempo, possuía uma profunda exigência de liberdade e uma grande sensibilidade
para a arte e a literatura. Sedenta de Deus, buscava ansiosamente a felicidade. Não
suportava injustiças, tanto que retornou para trabalhar em Trento com sua irmã, após
presenciar situações de injustiça nas terras de um rico Conde onde trabalhavam.
Neste
período, soube que um grupo de jovens – entre os quais estava Chiara Lubich - embalava
roupas e calçados para distribuir aos pobres. Quis conhecê-la. A partir deste encontro,
sua vida deu uma revira-volta inesperada. Ginetta, que sempre fugiu da dor e do sofrimento,
escutou Chiara falar de sua escolha: “Ela me explicou como deixou tudo para seguir
Jesus e que O havia escolhido não na glória do Tabor ou enquanto realizava milagres,
mas na cruz”.
Em 1948 Chiara transfere-se para Roma e confia a Ginetta o Movimento
em Trento. Após, também Milão, Turim, Parma, Florença e Sardenha. Em 1959, junto a
sete outros focolarinos, parte com destino ao Brasil, chegando a Recife, onde sofre
um grande impacto com a pobreza que encontra. “Não te dou um crucifixo de madeira,
mas um crucifixo vivo”, disse Chiara no momento de sua partida ao continente sul-americano.
Mais tarde, Ginetta escreveu que só Deus poderia resolver aqueles graves problemas
sociais “quando a Sua Palavra tivesse transformado o coração dos homens. Não um Deus
abstrato, nos céus, mas aquele que aprendemos a gerar entre nós”.
Com os anos
multiplicam-se os centros de formação, onde “as pessoas estão prontas a dar a vida
uma pelas outras”. Passa-se a viver num espírito de comunhão de bens, como era vivido
desde os primórdios, em Trento. O trabalho realizado em comunidades carentes no Recife
transformou o bairro conhecido como “Ilha do Inferno” em “Ilha Santa Teresinha”. As
primeiras concretizações da “economia de comunhão” custaram “o sangue da alma”, como
definiu Ginetta.
O projeto “economia de comunhão'” foi lançado em 1991, durante
uma visita de Chiara Lubich ao Brasil. Ela convidava empresários a dividir 1/3 dos
lucros com os mais pobres e a orientar toda a gestão da empresa à cultura do 'partilhar',
como antídoto à cultura egoísta do 'ter'. A crise econômica atravessada pelo Brasil
na época, poderia parecer o período menos propício para tal iniciativa, mas Ginetta
respondia às objeções, dizendo que “a geografia de Deus não é aquela dos homens. Deus
conhece a trágica situação econômica do Brasil. Cristo quer que vivamos da fé. Tudo
é possível àquele que crê”.
Após alguns anos, surge um pólo empreendedor reunindo
as primeiras empresas que aderiram à iniciativa. O projeto acaba atraindo a atenção
não somente de empresários, mas também de economistas, pesquisadores, estudantes e
políticos. Em seguida, toma forma a nível nacional o Movimento político pela unidade,
para contribuir à renovação, com espírito de unidade e fraternidade, o mundo político.
Ginetta acompanha os primeiros passos do movimento hospitalizada. A Deputada Federal
Luiza Erundina dirá a ela: “Ginetta, o Movimento para a unidade está plantado no Parlamento
brasileiro. É uma pequena semente. Você está pagando um preço por isto”.
Após
a sua morte ocorrida em 8 de março de 2001, Chiara Lubich escreve uma carta a todo
o Movimento, onde destaca Ginetta como “modelo de vida cristã e de unidade”. “Ela
anulou-se completamente como Jesus abandonado, reduzido a nada”.
O Bispo de
Osasco, Dom Ercílio Turco, salientou que a vida de Ginetta “é significativa não somente
para cristãos, mas também para quem está além dos horizontes da Igreja”. (JE)