Bispo não deve ter psicologia de "príncipe", afirma Papa aos Núncios
Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu na manhã desta sexta-feira,
21, os cerca de 150 Núncios Apostólicos em todo o mundo.
O encontro realiza-se
no âmbito do Ano da Fé e já havia sido convocado por Bento XVI e anunciado em 17 de
outubro passado como um momento de reflexão.
De fato, ao se dirigir aos Núncios,
Francisco fez questão de salientar que suas palavras constituem somente alguns pensamentos
que “vêm do coração”.
O primeiro deles é sobre a condição de “nômades” ao desempenharem
este serviço à Igreja. A cada quatro anos ou mais, os Núncios mudam de lugar, de um
continente a outro, sempre com a mala pronta. “Qual o sentido espiritual desta vida?”
– questionou o Pontífice. Antes de tudo, a mortificação, o sacrifício de deixar os
amigos, os laços e começar sempre novamente. “Isso não é fácil, é viver no provisório,
saindo de si mesmos sem ter um lugar onde colocar raízes, uma comunidade estável”,
disse.
Todavia, se trata de uma vida intensa se vivida com a consciência de
levar Cristo sempre consigo. “A familiaridade com Jesus Cristo deve ser o alimento
cotidiano do Representante Pontifício. Familiaridade com Jesus Cristo na oração, na
celebração eucarística e no serviço da caridade.”
O Papa advertiu para o perigo
de ceder ao que ele chama de “espírito do mundo”, retomando a expressão “mundaneidade
espiritual” de De Lubac, que conduz a agir para a própria realização e não para a
glória de Deus.
“Ceder ao espírito mundano expõe sobretudo nós pastores ao
ridículo. (...) Somos Pastores! Jamais nos esqueçamos disso! Vocês, queridos Representantes
Pontifícios, sejam presença de Cristo, sejam presença sacerdotal, de Pastores. (...)
Façam tudo sempre com muito amor.”
A seguir, Francisco falou de outra função
típica dos núncios: a colaboração nas nomeações episcopais. O critério fundamental
de quem governa é a prudência, recordou o Papa, indicando algumas características
que os candidatos ao episcopado devem ter:
Em primeiro lugar, que sejam próximos
ao povo, pacientes e misericordiosos. Que amem a pobreza interior, entendida como
liberdade para o Senhor, e exterior, feita de simplicidade e austeridade de vida.
Que não ambicionem o episcopado nem tenham uma psicologia de “príncipes”. Enfim, que
sejam capazes de conduzir, guiar e cuidar do seu rebanho.
Ao agradecer aos
núncios por seu trabalho, o Pontífice concluiu: “Trata-se de uma vida difícil, em
lugares às vezes de conflito, uma peregrinação contínua sem a possibilidade de se
estabelecer num lugar, numa cultura, numa específica realidade eclesial. Uma vida
em caminho, mas sempre com Jesus Cristo que os conduz. Nós sabemos que a nossa estabilidade
não está nas coisas, nos próprios projetos ou nas ambições, mas em ser verdadeiros
Pastores que mantêm fixo o olhar em Cristo”. Esta noite, o Papa Francisco janta
com os representantes pontifícios na “Casina Pio IV”, no Vaticano.