O cristianismo não é uma casuística de preceitos: Papa, em Santa Marta, denuncia hipocrisia
de quem não entra nem deixa entrar (no Reino de Deus)
O cristianismo
não é uma "casuística" de preceitos: esta concepção impede de compreender e viver
que Deus é alegria e magnanimidade, reiterou o Papa Francisco na Missa celebrada na
manhã da quarta-feira 19 de Junho, na Casa S. Marta. No altar juntamente com o Papa
estavam o Cardeal Marc Ouellet e o Arcebispo Lorenzo Baldisseri, respectivamente Prefeito
e Secretário da Congregação para os Bispos, acompanhados por um grupo de colaboradores;
e o presidente e secretário do Conselho Pontifício para a Família, o Arcebispo Vincenzo
Paglia e Jean Laffitte, também eles acompanhados pelo pessoal do dicastério. Os
hipócritas que "levam o povo de Deus a uma estrada sem saída": são eles os protagonistas
do Evangelho de hoje e da homilia do Papa Francisco. O Papa faz a sua reflexão sobre
a famosa passagem de S. Mateus que apresenta o contraste entre o comportamento dos
escribas e fariseus - que se exibem em público, quando fazem a esmola, a oração e
o jejum - e aquilo que, pelo contrário, Jesus indica aos discípulos como a atitude
certa a tomar nas mesmas circunstâncias, ou seja, o "segredo", a discrição apreciada
e recompensada por Deus. Em particular, para além da vaidade dos escribas e fariseus,
o Papa Francisco estigmatiza o hábito que têm de impor aos fiéis "muitos preceitos".
E os define "hipócritas da casuística", "intelectuais sem talento", que "não têm a
inteligência para encontrar Deus, e explicar Deus com inteligência", e fazendo assim
impedem a si próprios e aos outros de entrar no Reino de Deus:
"Jesus o
diz: "Nem entrais vós e nem deixais que os outros entrem”. São moralistas sem bondade,
não sabem o que é a bondade. Mas sim, são especialistas em ética, hein? "Deve-se fazer
isto, e isto, e aquilo ...' Enchem-te de preceitos, mas sem bondade. E aqueles dos
filactérios que vestem tantos tecidos, tantas coisas, para fingirem um pouco de "ser
majestosos, perfeitos, não têm o sentido da beleza. Eles não têm o sentido da beleza.
Chegam apenas a uma beleza para o museu. Intelectuais sem talento, moralistas sem
bondade, portadores de beleza para museu. Estes são os hipócritas, aos quais Jesus
repreende muito". "Mas isso não termina aqui", continua o Papa Francisco. "No
Evangelho de hoje – observa ele - o Senhor fala de uma outra classe de hipócritas,
aqueles que vão para o sagrado": "O Senhor fala do jejum, da oração, da esmola:
os três pilares da piedade cristã, da conversão interior, que a Igreja propõe a todos
nós durante a Quaresma. Também nesta estrada estão os hipócritas, que se ostentam
quando fazem jejum, dão esmola, e rezam. Eu penso que quando a hipocrisia chega a
esse ponto no relacionamento com Deus, estamos bastante perto do pecado contra o Espírito
Santo. Estes não sabem da beleza, não sabem do amor, não sabem da verdade: são pequenos,
mesquinhos". "Pensemos na hipocrisia dentro da Igreja: quanto mal nos faz a
todos”, reconhece com franqueza o Papa Francisco que, pelo contrário, indica como
"ícone" para imitar um personagem descrito numa outra passagem do Evangelho. Trata-se
do publicano que com humilde simplicidade reza dizendo: "tem piedade de mim, Senhor,
que sou pecador". "Esta - disse o Papa - é a oração que todos devemos fazer todos
os dias, sabendo que somos pecadores", mas "com pecados concretos, não teóricos".
E é esta oração, conclui o Papa, que nos ajudará a percorrer a "estrada contrária"
à hipocrisia, uma tentação – nos lembra o Papa Francisco - que "todos nós temos": "Mas
todos nós temos também a graça, a graça que vem de Jesus Cristo: a graça da alegria;
a graça da magnanimidade, da generosidade. O hipócrita não sabe o que é a alegria,
não sabe o que é a generosidade, não sabe o que é a magnanimidade".