Vigília de Pentecostes: Tocar no corpo do pobre é tocar no corpo de Cristo
Cidade do Vaticano (RV) – A Vigília de Pentecostes realizada na tarde de sábado,
na Praça S. Pedro, superou as expectativas e reuniu cerca de 200 mil pessoas.
Depois
de horas de festa, música e testemunhos, chegou o momento tão aguardado: a presença
do Papa Francisco, que depois de percorrer a Praça por meia hora para saudar os presentes,
respondeu a quatro perguntas sobre vários temas.
A primeira dizia respeito
a como alcançar a certeza da fé. Como fez em outras ocasiões, Francisco contou a sua
experiência em família e do anúncio que recebeu de sua avó paterna. “O primeiro anúncio
é feito em casa”, recordou, citando a importância das mães e das avós na transmissão
da fé: “Não encontramos a fé no abstrato, mas é sempre um pessoa que prega, que nos
diz quem é Jesus, que dá a fé...”.
O Papa descreveu o dia em que sentiu o chamado
para se tornar sacerdote. Era o dia 21 de setembro de 1953, aos 17 anos, “Dia do estudante”
na Argentina. Antes de ir a uma festa, passou em frente a uma paróquia e sentiu a
necessidade de se confessar. Depois dessa experiência, “algo mudou”, “eu não era mais
o mesmo”. “A verdade era que alguém me esperava. O Senhor sempre nos espera!” Estudar
a fé é importante, disse, mas mais importante é o encontro com Jesus.
O anúncio
da fé foi o tema da segunda pergunta, à qual o Pontífice respondeu com três palavras:
Jesus, que é o fulcro da mensagem; a oração e o testemunho.
“Gostaria de fazer
uma pequena observação, mas fraternalmente, entre nós: Todos vocês gritaram ‘Francisco,
Papa Francisco’... Mas Jesus, onde estava? Eu gostaria que vocês gritassem ‘Jesus,
Jesus é o Senhor e está no meio de nós!’ A partir de agora, nada de ‘Francisco’: é
Jesus, eh?”
A terceira pergunta foi sobre como viver uma Igreja pobre e para
os pobres. O Papa recordou mais uma vez que a Igreja não é um movimento político nem
uma Ong. “O valor da Igreja fundamentalmente é viver o Evangelho e testemunhar a nossa
fé. A crise não é somente econômica ou cultural, mas é a crise do homem. O homem é
a imagem de Deus, por isso é uma crise profunda.”
Nesses momentos, advertiu,
existe a tentação de nos fechar nos nossos problemas, no nosso pequeno, na nossa comunidade.
Mas a Igreja deve sair de si mesma rumo às periferias existenciais. “Hoje vivemos
a cultura do descartável. Pensar que hoje as crianças que não têm o que comer não
fazem notícia. Isto é grave. Isto é grave. Não podemos ficar tranquilos. Não podemos
ser aqueles cristãos bem educados, que falam de coisas teológicas enquanto tomam chá,
tranquilos: não. Devemos nos tornar cristãos corajosos e ir em busca daqueles que
são a carne de Cristo. Quando damos esmola, olhamos nos olhos de quem a pede? Tocamos
a sua mão ou lançamos a moeda? A pobreza, para nós cristãos, não é uma categoria sociológica
ou filosófica ou cultural: é uma categoria teologal.”
O Pontífice contou a
história de um rabino do século XII que narra a construção de torres, onde os tijolos
eram mais importantes do que os construtores. Quando um tijolo se quebrava, era um
drama e o operário era punido. Mas se um operário se machucava, isso não era um problema.
“Isso acontece hoje: se os investimentos nos bancos caem, é uma tragédia. Mas se as
pessoas morrem de fome, não têm o que comer ou não têm saúde, não é um problema! Esta
é a nossa crise de hoje! E o testemunho de uma Igreja pobre para os pobres vai contra
esta mentalidade.”
Enfim, a quarta e última pergunta: como ajudar nossos irmãos
que sofrem por testemunhar Cristo?
Para anunciar o Evangelho, respondeu, são
necessárias duas virtudes: a coragem e a paciência. Os que sofrem estão na Igreja
da paciência. “Deve-se precisar que muitas vezes esses conflitos não têm uma origem
religiosa; frequentemente têm outras causas de tipo social e político, e infelizmente
as pertenças religiosas são usadas como gasolina no fogo. Todo homem e toda mulher
devem ser livres na sua confissão religiosa, qualquer que seja. Por que? Porque aquele
homem e aquela mulher são filhos de Deus.”